Joaquim Bento: o Poeta
O mundo de convivência de Joaquim constituía-se pequeno.
Ele sabia de outras civilizações: isso não era trabalhoso entender. Mas, o
menino não compreendia o significado do Papai Noel e o porquê de o bom velhinho
que distribui presentes no Natal o ter ignorado?! Atormentava a sua mente uma
decepção. Buscou alívio, extravasou o sentimento de uma criança que não teve a visita
do tão sonhado velhinho da barba branca e do saco de brinquedos. Num gesto
acalentador e com os olhos mergulhados em lágrimas, escreveu os versos a seguir:
Papai
Noel, para mim, é lenda,
Que
só visita fora do horário.
Barba
branca, feição horrenda,
E
não entra no lar do operário.
Forasteiro,
domador de renas,
Atrasa,
para só chegar à noite.
Nas
nuvens, corta as sendas
Usando
o vento como açoite.
A
mim papai Noel nada deu:
Carrinho,
cabrito ou carretel.
Meu
presentinho se escafedeu.
Como posso crer em ti, Papai Noel?
É
mito, um Noel imaginário,
Que
há muito anda no mundo.
Na
barba, esconde um falsário;
Não
sabemos de onde oriundo.
Os versos são reveladores. O jovem expõe, com riqueza
de detalhes, sua insatisfação e seus medos. Não podia escolher, e tudo que
agora possuía configuravam-se um emaranhado de coisas desordenadas. Contava com
o destino: seu mestre e carrasco.